sábado, 3 de abril de 2010

De tirar o chapéu...

Sufoco, asfixia, massacre. De diversas outras formas poderia ser descrito o que se passou nos primeiros vinte minutos entre Arsenal e Barcelona. Wenger fez questão de dizer que foi a melhor equipa que alguma vez enfrentou. Fabregas ficou assombrado com a capacidade, ao vivo, do adversário. O extraordinário da exibição catalã está porém no adversário que subjugou. Era só a segunda melhor equipa do mundo a trocar a bola, aquela que, à partida, mais facilidades teria para evitar ser encostada lá atrás, aquela que melhor saberia fugir ao pressing e aquela que mais facilmente repartiria a posse de bola com os comandados de Guardiola. Pois era! Desenganem-se. Nos primeiros vinte minutos da partida, para além das inúmeras oportunidades de golo desperdiçadas, para além de não permitir ao Arsenal uma pausa para respirar, para além do elevado número acertado de passes, o Barcelona quebrou com o record de posse de bola na competição: 76%! Mais uma fasquia suplantada por Guardiola.

A eliminatória está longe de estar resolvida. A própria Liga dos Campeões tem outros candidatos em boa forma. O campeonato está ao rubro. Esta época, a glória catalã pode até vir a ser significativamente inferior à da época anterior. Mas esta equipa continua a mandar às urtigas tudo aquilo com que pretendem diminui-la. Este é o futebol do futuro, como o referiu Ibrahimovic há uns meses, ainda ao serviço do Inter; este é o futebol que vale a pena, que não só é belo, como é eficaz; este é o futebol que convence e pasma. Esta é a melhor forma de ganhar, querendo mais a bola, pressionando mais alto, fazendo menos faltas, privilegiando mais o intelecto que a vontade, mais a concentração que a força bruta, mais a troca de bola que o transporte. Esta é a melhor equipa de sempre. Nunca o mundo assistiu a um jogo com igual assombro. O Barcelona continua a ser, e a tendência é para que isto prevaleça, uma afirmação categórica de uma nova era, uma nova era que, embora deixe em êxtase quase todos, teima em agarrar-se aos predicados do passado. Faz-me confusão que, depois deste Barcelona, seja possível continuar a idolatrar tractores agrícolas ou moinhos de café, que se continue a falar de rapazes com músculos e de tipos que fazem muitos golos. Se há coisa que este Barcelona deveria estar a fazer era a mudar mentalidades. No entanto, parece que o comum mortal, que assiste abismado a um jogo do Barcelona, persiste em achar possível que há algum mérito em ser diferente do que vê. É o instinto conservador das massas e contra isso não há muito a fazer. Resta admirar Guardiola e esperar que o tempo lhe preste a justa homenagem.

P.S. As declarações de Guardiola no final da partida, acerca da sua mentalidade ofensiva, são algo que vale a pena ver e rever. Não se trata somente de um treinador a transmitir aquilo em que acredita. Trata-se da própria essência do melhor futebol possível. Entre outras coisas, confessou Guardiola que "o risco é não arriscar." Não se trata aqui de ganhar somente, de estar em vantagem por marcar golos fora. Trata-se de continuar a atacar, estando a perder ou estando a golear. Trata-se de jogar sempre - sempre! - o mais ao ataque possível. É este o recado, aparentemente trivial, que poucos perceberão.

29 comentários:

Riga/V-1-Boy disse...

acho que pela primeira vez comcordo com o nuno.

naqueles primeios 20 minutos se o Barcelona tivesse marcado 4 ou 5 golos não era escndalo nenhum, só o Almunia tirou 4 bolas de golo, fora outra do vermalen ( se nao me engano) e aquela do messi .

até meteu impressao uma equipa que troca tão bem a bola como o arsenal não passar do meio campo e não conseguir fazer 3 passes seguidos

Filipe Futebol Total disse...

muito bom blog :D

http://filipefuteboltotal.blogspot.com/


passa no meu

Balakov10 disse...

Excelente post. Concordo na plenitude. Acho que Guardiola é, na verdade, um grande senhor do futebol...

http://aoutravisao.wordpress.com

Miguel disse...

poucos perceberão, sem dúvida...a começar pelo teu adorado Mourinho.

TAG disse...

É pena é, neste caso, não ter resultado em golos, aquilo que realmente interessa no futebol.

Ricardo Costa disse...

Sou um fã de Mourinho. No entanto, este Barcelona de Guardiola é a equipa mais espectacular, mais vencedora, tem uma capacidade impressionante de jogar bem e ganhar títulos - o Arsenal, por exemplo, joga bem mas nada conquista -, os jogadores divertem-se com a bola nos pés. Guardiola é, por isso, um senhor do futebol mundial.

MM disse...

Se ha coisa que e unanime no futebol hoje e o chapeu que todos tiram ao Barcelona do Guardiola.
Nao e uma coisa que apenas alguns veem: e uma coisa que todos veem.

Mas Nuno, nao foste tu que me disseste que o futebol hoje e muito bom, melhor jogado, mais rico. Que os jogadores antigamente percebiam pior o jogo.
E que se o futebol hoje em dia para ti e tudo isso, nao vejo porque has-de celebrar o Barcelona do Guardiola como algo algo diferente de tudo o resto que devia servir para alterar mentalidades.
Porque para ti, tudo o resto e bom, melhor, mais rico e melhor jogado.

Estas a ver como falar por falar apenas para ser diferente nao resulta?

O Guardiola nao inventou nada. O que o Guardiola esta exemplarmente a fazer e aquilo que aprendeu com o(s) melhor(es) quando foi por ele(s) treinado. Foi o que lhe ensinaram e e a forma como ele entende o jogo, uma forma parecida com aquilo que o Futebol ja foi num passado cada vez mais distante.

daniel duarte disse...

Não posso deixar de concordar com o nuno mas o texto do MHumberto...na mouche!Disse tudo...

Nuno disse...

MHumberto diz: "Nao e uma coisa que apenas alguns veem: e uma coisa que todos veem."

MHumberto, estás enganado. E o teu engano é, ao mesmo tempo, o que te impede de perceber que nem todos vêem em que consiste a essência do Barça, e o que comprova que és dos que não vêem. Já te explico porquê.

"se o futebol hoje em dia para ti e tudo isso, nao vejo porque has-de celebrar o Barcelona do Guardiola como algo algo diferente de tudo o resto que devia servir para alterar mentalidades.
Porque para ti, tudo o resto e bom, melhor, mais rico e melhor jogado."

MHumberto, tudo o resto é "bom, melhor, mais rico e melhor jogado" do que o era há 20 anos ou há 10 anos. O Barcelona é melhor do que o futebol de há 20 ou 10 anos e melhor do que o futebol de agora.

"Estas a ver como falar por falar apenas para ser diferente nao resulta?"

MHumberto, a única pessoa que aqui vem falar por falar és tu. E a tua incapacidade de compreenderes ideias simples é de tal modo grave que não o percebes. E achas que eu digo as coisas apenas por dizer, nem sequer percebendo a lógica do meu raciocínio. Continuo a achar por isso que a escolaridade obrigatória é, em muitas pessoas, um desperdício.

"O Guardiola nao inventou nada. O que o Guardiola esta exemplarmente a fazer e aquilo que aprendeu com o(s) melhor(es) quando foi por ele(s) treinado. Foi o que lhe ensinaram e e a forma como ele entende o jogo, uma forma parecida com aquilo que o Futebol ja foi num passado cada vez mais distante."

É por isto, MHumberto, que não percebes nada do que é este Barcelona e que não percebes nada do que eu digo. Este Barcelona não tem a ver com nada do passado, até porque o futebol está de tal modo diferente que as equipas do passado a que te referes não teriam quaisquer hipóteses no presente. O Cruijff e o Van Gaal foram importantes, promoveram saltos evolutivos no jogo. O futebol destes, no seu tempo, era o melhor. Mas o futebol continuou a evoluir. Entre o Barcelona de Cruijff e o de Guardiola há mais de 15 anos de diferença e um sem fim de distinções. O Guardiola teve, sim, de modificar muita coisa, de aplicar muitas ideias diferentes. Posso começar pela simples zona defensiva, que a equipa de Cruijff não praticava, pela linha de 4 defesas, pelo excesso de troca de bolas curtas, pela obrigatoriedade dos centrais jogarem curto (o Koeman, com Cruiff, tinha permissão para usar e abusar do passe longo), etc. Há um sem fim de coisas diferentes. O futebol evoluiu. Este Barcelona não é um regresso ao passado, como queres fazer crer. É aqui que todo o teu raciocínio colapsa. Se fosse um regresso ao passado, não jogava nada nem ganhava nada. Era uma equipa pobre. Este Barcelona representa progresso, representa as mais inovadoras ideias dentro do jogo. Parece-se ligeiramente com algumas equipas do passado, mas porque, no passado, houve equipas que se distinguiram por coisas parecidas, por atacarem muito, por defenderem filosofias de jogo parecidas, etc. O problema, no entanto, é que não se pode ver o jogo anacronicamente. As ideias de futebol total foram boas ideias no tempo em que foram aplicadas. Hoje, seriam ridículas. O teu problema é que vês o jogo de modo anacrónico e achas que não há evolução. Achas que treinadores defensivos actuais fazem o mesmo que os inventores do catennacio e achas que o Guardiola faz o mesmo que o Rinus Michels. Pois não faz. A diferença é do tamanho do mundo.

Daniel, pelo simples facto de corroborares as ideias atoleimadas do MHumberto, a resposta que se dá a ele acima serve também para ti.

Riga/V-1-Boy disse...

ou seja

este futebol do barcelona com o guardiola acaba por ser um upgrade do barcelona do Cruiff por exemplo, mais adaptado aos dias de hj

será isso simplificado que queres dizer?

MM disse...

Passando naturalmente por cima do teu (outro, mais, habitual e evidente) complexo com escolaridades ou capacidades que frequentemente invocas porque é irrelevante;

A diferença Nuno, é que tu falas do que não sabes. A diferença é essa. Mas isso não é grave claro, o teu domínio é este - blogoesferas - e tens todo o direito de juntar as palavrinhas que bem entendas juntar perfaçam elas um todo coerente, ou não.
Habitual isso, no futebol ou em muita outra coisa. O futebol nessa matéria não é mais nem menos do que qualquer outra temática.
Se achas que o Barcelona do Guardiola é algo perfeitamente novo, caído do céu e iluminado, és cego e pões novamente a nu as deficientes construções que vais por aqui fazendo e que não são mais do que um conjunto desgarrado de ideias que vais tomando para ti mesmo mas que não consegues inteiramente processar.
O Barcelona do Guardiola, se quiseres, é um passo mais de qualquer coisa que nunca abandonou aquele estádio e que está profundamente enraizada no Clube catalão. Qualquer coisa essa começada e desenvolvida por Cruijff, tentada adaptar pelo Van Gaal e pelo Rijkaard (com sucesso) mas que o Guardiola agora faz com muito mais sabedoria, rigor e conhecimento de causa. É por isso que ser-se treinador do Barcelona é uma tarefa muito especial e particularmente difícil: porque os hábitos, rotinas e modos de conceber o jogo naquele Clube estão há muito instalados e não obedecem a mutações. Percorrem todos os escalões de formação do Clube e qualquer jogador que chegue à 1ª equipa catalã fá-lo estando já perfeitamente formatado sobre aquilo que é e deve ser enquanto jogador. E é com isso que os Treinadores, lá, têm de trabalhar e conviver. E é por isso que lá, não é qualquer um que tem sucesso. E é por isso que lá, não é surpreendente que seja o mais inteligente "discípulo" do mentor aquele que neste momento o bate no seu próprio jogo.
Esconder ou passar por cima desta relação é ignorância. A influência do Cruijff em Barcelona não se esgotou em 1996. É algo que está lá, hoje, e é algo que estará lá daqui a 50 anos, ainda. Não é um fantasma nem um mito. São coisas concretas, processos, ideias e fórmulas que são postas em prática nas várias equipas e nos vários escalões etários do Barcelona.
O que o Guardiola está a fazer - exemplarmente - é levar tudo isso um passo mais à frente. A mentalidade é a mesma, a filosofia é a mesma, as ideias são as mesmas mas, o rigor e a completude são maiores e melhores. E isso não é surpreendente também (sê-lo-á para ti) porque o Guardiola enquanto jogador tinha características muito próprias e diferentes do seu mentor. Não estou com isto a dizer que um é melhor que o outro, o que digo é que um - o Guardiola - tem qualidades que o outro não tinha mas, que o outro - o Cruijff - tratou de deixar muito do trabalho já feito e pronto para quem o quisesse e soubesse completar.
A dimensão deste Barcelona é em tudo idêntica à do dream-team que venceu as 4 Ligas e a Taça dos Campeões Europeus em 1992 mas, não se esgota naquilo que é o jogo jogado com a bola. Foi isto que o que o Guardiola acrescentou, um nível mais, mas de uma mesma dimensão. O tal passo mais adiante, mas que está intrinsecamente ligado e é consequente do que está para trás, o tal passado que ignorantemente apelidas de pobre e pior.
Este Barcelona não sofre 4 e 5 golos como o outro às vezes sofria, nem o Zubizarreta teve o registo curto de golos sofridos que o Valdez tem. Este Barcelona vence o outro em todos os parâmetros do jogo, sem excepção: marca mais golos, sofre menos golos e exerce um domínio sobre os adversários no tempo todo do jogo mas, este Barcelona é uma consequência do outro. A dinâmica com a bola é a mesma, juntando-se-lhe agora a capacidade de recuperá-la muito mais depressa, muito mais perto da baliza adversária e em condições que permitem que os actuais jogadores deste Barcelona não precisem de desgastar-se em correrias, recuos ou avanços. Mérito do Guardiola, uma eficiente forma de jogar que ele tão bem demonstrou enquanto esteve lá dentro do campo.

MM disse...

O Guardiola disse que o Barcelona sem a bola (à semelhança do outro) "é uma equipa horrível", e que é por isso que se torna indispensável ganhá-la o mais rapidamente possível. Ele não joga com 4 defesas, como dizes. Os únicos momentos em que o Barcelona tem disposta a linha de 4 defesas são possivelmente quando o jogo começa aos 0´ e recomeça aos 45´. Na maioria do tempo, são só 2. Em algum do tempo, são 3, quando o Busquets ou o Keita se juntam aos centrais quando a equipa perde a bola e que lhes permite manter mais facilmente o balanço e justamente recuperá-la mais depressa, porque a equipa adversária quando a ganha para além de ter o trio da frente a pressioná-los e o extremamente móvel meio-campo também a pressionar, não tem sequer uma oportunidade de num rápido lançamento apanhá-los mancos.
Com bola, são 2 Barcelonas em tudo semelhantes. O outro mais virtuoso porque tinha mais elegantes e virtuosos intérpretes, Stoichkov-Laudrup-Romário, mas este bem mais rápido e com um meio-campo bem mais móvel que o outro, quando se compara um Xavi ou um Iniesta com um Bakero, por exemplo.
Mas a filosofia é a mesma, os princípios de jogo são os mesmos, a mentalidade é sem dúvida a mesma.
Mentalidade essa que faz os adeptos celebrar o regresso deste tipo de futebol.

Já tu, não sei o que celebrarás, mas não tenho duvidas que o "rico e melhor jogado futebol" que há uns tempos falaste não é seguramente o do Guardiola, nem é seguramente o deste Barcelona ...

Ou isso, ou falas por falar só.
É capaz de ser esta.

Nuno disse...

MHumberto, deixa-me dividir os teus comentários em duas categorias qualitativas. O primeiro texto, em que falas da influência, está bom. O segundo, em que procuras falar dos princípios de jogo, está horrível. Vamos por partes.

Em relação às influências, não tenho nada a dizer. Não leste nunca da minha parte que o Guardiola tinha inventado um novo modo de jogar ex nihilo. Isso é absurdo e nunca o faria, quer para o Guardiola, quer para o que quer que seja. Todas as evoluções, seja em que prática forem, dependem dos degraus anteriores. A revolução, que existe, de Guardiola, não pode ser por isso total. Mas é suficientemente distinta para que se possa falar de um paradigma totalmente diferente. As ideias de Guardiola são, por isso, muito diferentes das de Rijkaard, das de Cruijff e das do comum treinador actual. Junta coisas de uns, coisas de outros e coisas só dele. E a amálgama disto é uma coisa nunca antes vista. Partilhará, com todas essas influências, certos aspectos, mas visto de um ponto global é algo muito diferente de tudo o que já se passou. Dito isto, as tuas palavras nesse primeiro comentário são minimamente acertadas, mas pecam por não perceber que em nada contradizem o que eu disse. Aliás, se contradizem alguém é a ti. Repara. Antes tinhas dito isto:

"O Guardiola nao inventou nada. O que o Guardiola esta exemplarmente a fazer e aquilo que aprendeu com o(s) melhor(es) quando foi por ele(s) treinado."

Agora dizes isto:

"Qualquer coisa essa começada e desenvolvida por Cruijff, tentada adaptar pelo Van Gaal e pelo Rijkaard (com sucesso) mas que o Guardiola agora faz com muito mais sabedoria, rigor e conhecimento de causa."

e isto:

"O que o Guardiola está a fazer - exemplarmente - é levar tudo isso um passo mais à frente."

e ainda isto:

"A dinâmica com a bola é a mesma, juntando-se-lhe agora a capacidade de recuperá-la muito mais depressa, muito mais perto da baliza adversária e em condições que permitem que os actuais jogadores deste Barcelona não precisem de desgastar-se em correrias, recuos ou avanços."

Passas de um tipo que não inventou nada para alguém que segue uma influência e que lhe acrescenta um passo, rigor, conhecimento de causa, capacidade de recuperação, etc. Afinal, o Guardiola sempre trouxe coisas novas, sempre inventou alguma coisa, não é só uma cópia de outros. Aquilo que digo é que o que faz toda a diferença é precisamente aquilo em que consiste a diferença entre os princípios de jogo do Barça e os de outros. É isso que permite ao Barça ser esmagador. Sem isso, era o Barça de Rijkaard, uma equipa virtuosa, de mentalidade ofensiva como é hábito no clube catalão, mas sem as características que precisamente a distinguem de todas as outras equipas do futebol mundial. E é aqui que falhas, ao não saberes, precisamente, identificar aquilo em que Guardiola é, de facto, diferente. Se quiseres saber, tens vários textos neste blogue a explicar isso. Recomendo-te especialmente dois:

"http://entredez.blogspot.com/2009/04/mes-que-un-club.html"

Neste, identifico os principais princípios de jogo da equipa.

"http://entredez.blogspot.com/2009/05/uma-epoca-de-sonho-em-4-capitulos.html"

Neste, num dos capítulos, falo do salto evolutivo que representou este Barcelona, identificando 4 princípios de jogo que não se encontram em mais nenhuma equipa do mundo e que são as principais causas deste Barcelona ser tão diferente.

Nuno disse...

Vamos agora à segunda parte do teu comentário. Em primeiro lugar, gostava de saber onde, quando, e em que contexto é que o Guardiola disse que a equipa, sem bola, era horrível. Tenho lido muita coisa e nunca li nada sequer parecido. De qualquer modo, pode ser uma provocação barata. Não é de certeza o que o Guardiola pensa. Até porque o Barcelona, além de ser óptimo com bola, é a melhor equipa do mundo (enquanto equipa), sem bola. Acho por isso muito estúpido que aches que o Barcelona é horrível sem bola. Os processos colectivos, sem bola, são perfeitos. Basta ver a forma como anulou completamente uma equipa que até troca bem a bola como é o caso do Arsenal.

Depois, vêm as asneiras. Não joga com 4 defesas? Mas que Barcelona é que tens andado a ver. É claro que, com bola, a dinâmica ofensiva da equipa faz com que não se mantenha a linha de quatro. Mas isto é em todas as equipa do mundo. Agora, em momento defensivo, o Barcelona joga com uma linha de quatro defesas bem marcada. Aliás, o rigor desta linha é quase férreo. Basta veres um jogo com atenção para veres como isso acontece. Os jogadores estão essencialmente concentrados em estar em linha uns com os outros e em permanecer bem juntos entre si. Isto é óbvio e dizer o contrário é palermice.

Depois, dizes que formam 3 defesas quando a equipa perde a bola, juntando-se o trinco aos defesas. Isto é das coisas mais absurdas. A única vez que o trinco se junta aos defesas é, em certos processos ofensivos, uma coisa que o Guardiola tentou várias vezes. Acontece que o Barcelona, a sair a jogar, avança os laterais e abre os centrais. Há equipas que, para não deixar o Barcelona jogar, põem os seus avançados a marcar os centrais. Quando isto acontece, o trinco tem ordem para baixar para a linha dos centrais, para que a progressão seja feita por ele. Neste momento, o Barça sai a jogar num 343. Isto só acontece, portanto, em casos pontuais e somente com bola. Sem bola, a equipa defende sempre com quatro defesas. E quando é para recuperar a bola, o trinco está sempre na cobertura aos médios, muito avançado no terreno, nunca junto dos centrais. Repito, não sei que Barcelona andas a ver, mas não é o do Guardiola de certeza.

Nuno disse...

"Com bola, são 2 Barcelonas em tudo semelhantes. O outro mais virtuoso porque tinha mais elegantes e virtuosos intérpretes, Stoichkov-Laudrup-Romário, mas este bem mais rápido e com um meio-campo bem mais móvel que o outro, quando se compara um Xavi ou um Iniesta com um Bakero, por exemplo."

O teu problema, MHumberto, é que não sabes que aqui raramente se falam de individualidades. Achas que uma equipa é parecida com outra porque joga de maneira parecida e comparas individualidades. Não é disso que se está a falar. Com bola, as equipas são muito distintas. Têm coisas semelhantes, mas apenas princípios gerais. As semelhanças são: pressing muito alto, mentalidade ofensiva e privilégio pela técnica. De resto, é um mundo de diferenças. A equipa de Cruijff não privilegiava, de maneira nenhuma, o toque curto e as tabelas constantes; também, porque jogava num sistema sem laterais, não tinha saídas de bola idênticas, com o lateral a jogar para dentro e a permitir à equipa avançar pelo meio; não havia uma preocupação constante com a formação de apoios próximos, sendo que os jogadores jogavam todos muito mais afastados uns dos outros; não havia passes verticais pelo chão com a constância que há agora; o avançado raramente tinha a funcionalidade obrigatória que tem no modelo de Guardiola, o de servir de apoio frontal e de jogar de costas; o espaço entre linhas era pouco procurado; o futebol era muito mais vertical, menos paciente, menos lateralizado, por exemplo; não havia, nem sequer de perto, a preocupação constante em não arriscar passes difíceis e em manter, acima de tudo, a posse de bola; não havia processos ofensivos definidos, estando os jogadores muito mais entregues às suas capacidades individuais (repara que uma das coisas quase constantes, quando a bola entra no extremo, é este vir para dentro e procurar uma tabela). Está aqui um sem número de princípios que distinguem as duas equipas. O Barcelona de Guardiola é o que é essencialmente por causa disto. Na prática, é completamente diferente de outros Barcelonas. Partilha com eles apenas as generalidades do costume: mentalidade ofensiva, pressing alto, cultura técnica, coisas que, de facto, são imutáveis desde Cruijff. Mas, de resto, é muito diferente.

Portanto, falar em regresso é uma estupidez. Este Barcelona só pode ser competitivo, nos dias de hoje, porque é, por definição, completamente diferente. É, no fundo, a mentalidade de Crujff adaptada aos dias de hoje e, por isso, naturalmente diferente e mais evoluída. Tu, que pensas anacronicamente, achas que é a mesma merda. E é por isso que não entendes um chavelho de futebol. E é por isso que és tu e não eu quem fala por falar.

Nuno disse...

Riga diz: "este futebol do barcelona com o guardiola acaba por ser um upgrade do barcelona do Cruiff por exemplo, mais adaptado aos dias de hj"

Sim e não. É um upgrade das ideias principais do Crujff, ou por outro lado o modo mais perfeito de jogar, nos dias que correm, com uma mentalidade tão ofensiva como propunha Crujff sem perder competitividade. Mas isso resulta num sem número de distinções e de princípios que a equipa de Cruijff não praticava. E que faz com este Barcelona seja muito mais que uma mera adaptação aos dias que correm.

MM disse...

Nuno sinto muito pouca vontade de responder-te.

" «We had chances, they have chances, and at the end we have control of the game and this is good for us ... Because without the ball we are a horrible team, a disaster team. And we got it.»

Still, Guardiola pranced along the sidelines to the very end, enjoying every moment of the club's historic win. "

Na final da Liga dos Campeões do ano passado bronco.
Continuamos isto depois.

Nuno disse...

MHumberto, bronco é quem não percebe a ironia disso. O Guardiola jamais pensaria isso. O seu Barcelona é tudo menos horrível sem bola. Aliás, olhar para os discursos do Guardiola e acreditar que ele diz exactamente o que pensa é deveras estúpido. É preciso lembrar-te o que ele disse quando lhe perguntaram o que seria o futuro do Barcelona depois de ter ganho tudo?

Repito, o Barcelona é a melhor equipa do mundo sem bola. Se tens pouca vontade ou não de responder a isto e àquilo que apresento, não me interessa. Não venhas é pôr em causa aquilo que defendo com baboseiras. Este blogue não é para idiotas.

MM disse...

Nunes,

Há uma verdadeira auto-estrada que vai desde o tipo que descobriu a pólvora até àqueles que hoje se servem da fórmula para a produzir. Pareces uma criança a argumentar, tens noção disso? És como aqueles que dizem assim: "Ah então mas disseste que o mar era azul escuro e agora dizes que é Vermelho ..."

Uma cópia de outros?
Dizes tu, ou disse-o alguém mais? Mostra-me por favor, quem o disse.
Aquilo em que Guardiola é de facto diferente?
"A dimensão deste Barcelona é em tudo idêntica à do dream-team que venceu as 4 Ligas e a Taça dos Campeões Europeus em 1992 mas, não se esgota naquilo que é o jogo jogado com a bola." Deste parágrafo qual foi a parte que não conseguiste subentender?
Ou do seguinte?: "A dinâmica com a bola é a mesma, juntando-se-lhe agora a capacidade de recuperá-la muito mais depressa, muito mais perto da baliza adversária e em condições que permitem que os actuais jogadores deste Barcelona não precisem de desgastar-se em correrias, recuos ou avanços. Mérito do Guardiola, uma eficiente forma de jogar que ele tão bem demonstrou enquanto esteve lá dentro do campo."
Vê lá Nuno ... não me digas que para além de seres - como diz o teu post - dos poucos que descobriu os méritos deste Barcelona e deste Guardiola (acordaste decerto de algum coma recente ou andaste 1 ano e meio sem televisão em casa) és também o tipo que finalmente vai desmontar aquilo que o Guardiola acrescentou ao futebol de sonho do Cruijff.
Deixa-me dar-te uma novidade: vais atrasado. Antes de ti já umas quantas milhentas almas o fizeram, e bem melhor do que tu.

Tens lido muito coisa? Não duvido Nuno, a sério. E não só não duvido como tenho a absoluta certeza que pouco mais farás para além disso. Agora repara ... ele (o Guardiola) o mesmo que "jamais pensaria azeite e vinagre" não disse só isso. As palavras foram exactamente estas, do Pepe himself: “Without the ball we are a horrible team, we need the ball, so we press high up the pitch to win it earlier.”
E sabes porque é que ele diz isto Nuno? Porque por mais confiança que um treinador tenha no seu processo defensivo há uma coisa que nunca mudará: o facto de não poder prever aquilo que o adversário vai fazer quando é dono da bola, e porquê? Porque só depende deles próprios ... e de ninguém mais. Tu enquanto aspirante a Tadeia gostas do eco que as tuas próprias palavras fazem na tua mente quando dizes "o Barcelona é a melhor equipa do mundo a jogar sem bola." Escuta, novidade segunda: o Guardiola está-se nas tintas para isso, e sabes porquê? Porque não é o desejo de um treinador passar 90 minutos com o credo na boca como os que ele experimentou em Stamford Bridge há pouco menos de 1 ano, em que não sofreu 3 ou 4 golos por mero acaso e acabou por qualificar-se para a final com um golpe de génio daquilo que as tuas defeituosas - e pouco originais - construções teóricas escusam-se de mencionar: uma individualidade. No caso, do Iniesta.
Porque o futebol é isso, tens noção? É jogado por miudos, rapazes, adolescentes, homens, em que só é preciso uma bola, nada mais: para haver jogo. É um jogo organizado claro, se não o fosse não teria gracinha nenhuma mas não é nenhum sistema complexo de equações em que alguém os resolve a várias ordens para no fim obter um resultado.
Escapa-te isto provavelmente. Talvez porque vivas obcecado em desorganizados consumos teóricos sobre o jogo ou, talvez porque muito simplesmente o futebol não te diz nada e o que gostas mesmo é de Tadeias.

MM disse...

Fazes uma descrição do Barcelona do Cruijff que, que não sei ... lá está, pouca vontade existe para pegar nisso sequer. Expansive game. Não sei dizê-lo em catalão, nem sequer em castelhano mas, o Cruijff fê-lo muitas vezes, pelo menos quando falava do seu próprio Barcelona. The wingers are not to participate on unnecessary and needless trackback runnings, a sua missão é pressionar e roubá-la aos defesas e, devem sempre constituir a perfeita opção à qual os centro-campistas devem primeiro entregar (a bola). "That´s why Laudrup was Barcelona´s most important player."
O objectivo é expandir o jogo. ""Even without natural wide players, the idea is there to open up the pitch (expandir o jogo Nuno). Where are the spaces? Always on the wings. That is where the ball has to go to push for one-on-ones."
"I say quickly because the choice of when to send the ball out there is the key to causing a surprise." (send it where Nuno? To the wings.)

Relê a descrição que fazes do jogo do Cruijff por favor, e mete-a no lixo.
Procura por cassetes e vê-as. Existem centenas, com jogos do princípio ao fim. Não é nenhuma impossível missão fazê-lo e o prazer é garantido.

Este Barcelona é muito mais que uma mera adaptação. Claro que o é, aqui acertaste. Por isso te disse que uns tentaram adaptá-lo, e fizeram-no com sucesso (acrescentei), Rijkaard e Van Gaal. Espera ... "tentada adaptar pelo Van Gaal e pelo Rijkaard (com sucesso) mas que o Guardiola agora faz com muito mais sabedoria, rigor e conhecimento de causa."
Hmmm, talvez tenhas razão. Não está completamente clara a separação entre o Guardiola e os dois nomes que o precedem, devia tê-lo dito melhor. Escrito aliás.

Ía dizer-te 2 ou 3 coisas mais mas vou dormir. Digo-tas para a semana.
Não me apetece terminar isto.
Cumprimentos.

MM disse...

Já agora, e para que não julgues que a tua superficialidade passa desatenta por todos:

Tu nem sabes a que declarações me referia, porque nem as ouviste, percebi. Deverás culpar a RTP por tal, imagino, não faço ideia.
Portanto se nem as ouviste nem as viste, o dizeres que "bronco é quem não percebe a ironia disso" é uma coisa só:
Falar. Por. Falar.

Cumprimentos.

Metralha disse...

MHumberto, gabo-lhe a paciencia.

E obrigado por esta descrição histórica do FCB. Tão parecida com a do nosso Sporting na mentalidade, cada vez mais afastada da actualidade.

Nuno disse...

As amebas só têm uma célula e não sabem o que é uma ironia. As amebas só têm uma célula e acham que as palavras dos outros são testemunhos de verdade inequívocos. As amebas só têm uma célula e tentam falar outra língua para parecerem eruditas. As amebas só têm uma célula e acham que podem falar de futebol. Tendo as amebas só uma célula, é portanto pena que este blogue, por manifesta insuficiência intelectual própria, não consiga falar com amebas. É pena...

João Mira disse...

MHumberto, dá aqui uma vista de olhos, pode ser que percebas melhor: http://paradigmaguardiola.blogspot.com/

Metralha disse...

Nuno a tua sorte é seres tão presunçoso que nem ao trabalho te dás de ouvir/ler os outros. Seja em que sentido for...

Por isso é que cada pessoa que por aqui passa, com uma célula ou mais, ameba ou elefante, vem aqui e ri-se de ti.

E por isso é que pegas nos textinhos dos outros e tentas ridicularizar quem discorda de ti.

Mas quero bem que continues nessa fantasia que és mais inteligente que os outros, pq assim dá para continuar a rir-me do ser mais egocentrico da blogosfera. Não será tu unicelular? não estou aver o tico e o teco aí a discutir na tua caixinha...

NunoC disse...

Quem perante a evidência, quem perante o mais belo de sempre, quem perante o certo prefere esforçar-se em arranjar justificações para diminuir valor ao invés de perceber, estudar, aprender e evoluir não é, de facto, mais que uma ameba.

Excelente post Nuno, como de costume, pelas ideias e pelas palavras, a roçarem o futebol épico do Barcelona de Guardiola.

Dejan Savićević disse...

Nuno,
O Guardiola poderia por a Académica com o actual plantel a jogar como o Barça??

Nuno disse...

R. Galeiras, acho que sim. Dificilmente ganharia a Liga dos Campeões com a Académica e dificilmente seria tão esmagador como o Barça. Há, evidentemente, uma quota parte importante naquilo que o Barça é que reside na qualidade individual dos atletas. Mas os princípios de jogo do Barça são aplicáveis a qualquer equipa. E o André Villas Boas até tem aplicado, pelo menos, alguns desses princípios. E com bons resultados.

O que digo, portanto, é que poderia aplicar as suas ideias na Académica. Não teria, obviamente, os resultados que obtém no Barça. Mas creio que obteria os melhores possíveis.

Dejan Savićević disse...

ERA MESMO ISSO QUE PENSAVA...
E ACHO QUE ERA ISSO QUE FALTAVA NA TUA ANÁLISE.


CONSEGUI SABER A TUA OPINIÃO SOBRE O VILLAS E AO MESMO TEMPO ESCLARECER QUE PARECE-ME QUE CONCORDAS COM A EXPRESSÃO CELEBRIZADA PELO MOURINHO DE QUE "SEM OVOS NÃO SE FAZEM OMOLETES"